domingo, 19 de dezembro de 2010

Como Nasceu "O Salto do Dourado"

O Ácido Sulfúrico e Eu

Essa substância química altamente corrosiva e tóxica, é largamente empregada industrialmente. Meu primeiro contato com ela remonta aos idos de 1962 quando meu pai se acidentou no laboratório do Laticínios Agostinho Bossi, fábrica de manteiga de Crisólita da qual ele era gerente. Ao realizar um teste de acidez no leite - uma análise rotineira do processo de determinação da qualidade dessa matéria-prima para obtenção de manteiga - manuseando uma solução a 10% de ácido sulfúrico, algumas gotas dessa substância caíram em seu olho esquerdo. Consequência: meu pai quase perdeu a visão desse olho!

No Laboratório de Analítica Aplicada do CETIQT, em 1978, na condição de Monitor, eu manipulava esse produto, assim como tantos outros, pois era responsável em manter os estoques de reagentes químicos usados nas aulas práticas, período em que desenvolvi um enorme respeito por ele.

Posteriormente, em julho de 1980, iniciei um estágio de seis meses na então Companhia Industrial Belo Horizonte, uma importante indústria têxtil situada no bairro Cachoeirinha, na capital mineira. Lá, minha mais importante tarefa como estagiário foi a coordenação da produção de um artigo de moda da estação de verão daquele ano: um tecido chamado crepe de algodão. O efeito de crepagem era obtido a partir da adição - via estampagem - de uma solução concentrada de soda cáustica ao tecido. No final do processo a soda cáustica deveria ser completamente retirada do tecido crepado e o agente de neutralização empregado era, nada mais, nada menos que o ácido sulfúrico.

Um ácido forte, estável e, convenhamos, um produto químico cujo custo era bastante compensador, apesar de apresentar altíssima periculosidade em seu manuseio.

Assim, o conhecimento de suas propriedades e meu respeito por essa substância aumentavam gradativamente.


O Transporte de Cargas Perigosas

Diariamente, nas rodovias brasileiras, enormes carretas transitam levando em seus tanques de aço inúmeras substâncias químicas: agro-tóxicos, combustíveis, solventes, ácidos e álcalis, gases diversos, etc. Muitas dessas substâncias são produtos químicos perigosos, de alto poder letal, corrosivos e tóxicos.

E acidentes envolvendo esses veículos ocorrem com uma frequência aterradora, causando perdas de vidas humanas e danos imensuráveis ao meio ambiente.

Em 1979, fui indicado pelo Prof. José Rodrigues Dias - Química Analítica e Inorgânica do CETIQT/RJ - para participar de um curso prático e teórico - um treinamento na área de Manuseio e Transporte de Cargas Perigosas.

Naquela oportunidade conheci de perto as instalações de uma indústria química - a Eletroquímica Pan-Americana, no Rio de Janeiro. Lá, tomei conhecimento dos riscos que envolvem o manuseio e transporte dos produtos cloro e amônia (gases tóxicos), ácido clorídrico, ácido nítrico e ácido silfúrico (ácidos inorgânicos, corrosivos e tóxicos).

Finalmente, participei de um treinamento na fábrica de explosivos da Dupont du Nemour - uma empresa americana - instalada no município de Barra Mansa, estado do Rio de Janeiro.


O Rio São Francisco e Eu

Morei em Pirapora, norte de Minas, de julho de 1990 a dezembro de 1993, portanto, quase quatro anos. Cidade privilegiadamente banhada pelo Rio São Francisco  que a separa do município vizinho de Buritizeiro, unidas pela velha ponte de ferro - passagem de um único veículo de cada vez - nessa cidade vivi um dos melhores períodos de minha vida. Lá chegando, fui logo encomendando uma canoa de madeira a um velho pescador - obtida do tronco de um pequizeiro centenário. Meu amigo e chefe, então diretor da Velonorte S/A, o Engo. Cláudio Batista, tratou logo de batizá-la pelo nome de "Trovão Azul". É que ela fora pintada na côr azul royal, e, nos finais de semana e feriados, era comum o "Trovão Azul" subir o Velho Chico, sob o jugo dos remos (ufa!), até a desembocadura do Rio Formoso, mais de uma dezena de quilômetros rio acima, onde montávamos acampamento. Naqueles áureos tempos aprendi a amar e respeitar o Rio São Francisco - encantador, imponente, magnífico...


O Campo Fértil

Morei na Fazenda do Zeca durante vinte meses, de novembro de 2007 a junho de 2009. Lá ainda não tinha energia elétrica, então, após a lida diária, o jantar era servido tão logo escurecia. Geralmente, assim que jantávamos, tínhamos alguns momentos de prosa até o sono chegar. Éramos em número que variava de três a cinco pessoas, dentre elas, além de mim, o Vanderlei - o vaqueiro da Fazenda do Zeca e meu irmão, João Lázaro, que passou a viver lá a partir de setembro de 2008. No mais tardar, às 19 h e 30 min já estávamos recolhidos para uma longa e interminável noite de sono. No início, eu acordava lá pelas 23 a 24 horas e, plenamente satisfeito, varava a madrugada acordado tentando inutilmente conciliar o sono. Inevitavelmente, os pensamentos afloravam em minha mente aos borbotões. Aos poucos, começou a nascer dentro de mim o enredo que norteia "O Salto do Dourado". Os ingredientes para tal, ou estavam enraizados em mim desde os tempos de CETIQT/RJ, quando tive o privilégio de trabalhar com o Professor José Rodrigues Dias - titular das cadeiras de Química Inorgânica e Química Analítica - como monitor do Laboratório de Química Analítica Aplicada, ou foram se incorporando ao longo dos anos em minha trajetória no ramo têxtil, por cerca de 30 anos.

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente! É o mínimo que posso dizer!
Parabéns, grande José das Graças!

José das Graças disse...

Como pode perceber, o livro é fruto de experiências acumuladas ao longo de mais de 45 anos ...